A essas alturas já é possível fazer com mais clareza uma caracterização do governo Bolsonaro.
Não seria caso de um balanço, mas de um testamento. De um natimorto.
O governo até agora parece que não tomou posse. Está claro que não havia um programa.
A ausência de um norte vai deteriorando a confiança. Parte do eleitorado bolsonarista já sabe disso, as pesquisas já indicam. A outra parte reduziu-se em sucessivas fragmentações do polo direitista, o MBL o exemplo mais expressivo.
A estratégia das redes sociais não tem mais a mesma força nas ruas, o ato do dia 26, ensanduichado por duas outras grandes mobilizações que ocuparam as ruas (dias 15 e dia 30). Uma greve geral já está sendo convocada para o dia 14 de junho.
O time escalado por Bolsonaro não conseguiu entrar no jogo. Nem entendeu o campeonato ainda. Nem vai entender, pelo visto. Pofiam com o presidente num outro campeonato, o das besteiras verbalizadas publicamente.
Enquanto isso, o desemprego aumenta e o PIB se retrai, acendendo o sinal vermelho para o governo, que ainda sobrevive graças à leniência de frações da direita brasileira, interessadas agora na reforma da previdência e temerosa de um retorno antecipado da esquerda ao poder.
Não há um proposta efetiva para a segurança pública, ficando o porte/posse de armas (pesquisa recente indica que a bandeira perdeu drástico apoio popular) e o pacote de moro para o campo das abstrações sem destino certo.
Para a economia, depois da reforma da previdência, não há absolutamente nada.
O governo Bolsonaro está sendo tolerado por amplos setores da direita brasileira, por mera conveniência. Sabem que é frágil, não mobiliza confiança e nem é capaz de tocar um projeto de desenvolvimento.
As propostas legislativas estão sofrendo dura resistência no Congresso e os interlocutores do governo são inexperientes e despreparados para a função. O presidente da Câmara já assume ares de Presidente da República, diante do vazio que foi criado.
A tendência é que a cada dia aumente a dependência do governo ao Centrão com quem o Bolsonarismo mantém uma relação de amor e ódio: para manter o apoio dos seguidores das redes sociais ataca, para aprovar suas propostas legislativas, assopra.
A proposta de reforma da previdência, ponto sensível para a estabilidade do governo, sofrerá modificações sensíveis,correndo o risco de não ser aprovada.
Dois caminhos: a) se for aprovada, Bolsonaro terá algum fôlego, até que o povo perceba a tragédia em que será mergulhado. b) se não for aprovada, será o fim antecipado desse governo.
No segundo caso, como será esse fim, dependerá de como os de baixo vão reagir, porque as elites já indicaram que preferem uma ditadura do que a volta da esquerda.
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