Zygmunt Bauman dizia que a modernidade é um processo de
“liquefação” . "Derreter os sólidos" foi uma frase cunhada no Manifesto Comunista, com o sentido de proclamar os trabalhadores pela superação do passado. Era também um clamor pela destruição da armadura protetora das crenças e lealdades da sociedade que deveria ser superada.
Por trás da desintegração sem dúvida nenhuma está a crise ideológica. Ela atinge direita e esquerda. O Brasil por excelência é o laboratório perfeito para análise dessa crise.
Bolsonaro é o nosso Trump, embrião da nova direita - ou o ressurgimento da direita velha, nos padrões do anticomunismo do pós-guerra. Sua presença no cenário político é o resultado mais acabado da diluição do pensamento conservador, que hoje opera em distintas nuances.
A direita brasileira não tem um representante confiável, nem para ela mesma. Por isso, a sucessão é sempre um problema. Depor Dilma pelas pedaladas fiscais foi uma das soluções encontradas para resolver o problema do vazio de liderança desse campo.
A agitação moralista produzida pelos segmentos mais conservadores da sociedade não é racional e coerente. É apenas uma estratégia de mídia, para enganar os incautos. A direita brasileira não tem hoje uma liderança moral, por isso manobra nos bastidores do poder, desconfiada dos efeitos práticos das eleições.
O discurso conservador, elaborado pelo PSDB, ávido pela retomada do poder, saiu dos limites da direita racional. Ele ameaça agora todos os postulados do liberalismo e avança sobre conquistas civilizatórias, que não são propriedades absolutas nem da direita e nem da esquerda.
A direita não apenas se diluiu, mas também se fragmentou, nesse aspecto. Por dentro dessas nuances envergonhadas é que opera um setor da esquerda, com suas políticas de alianças.
Georg Lukács disse em entrevista a Leandro Konder, sobre a crise do marxismo:
"A crise existe. No processo
histórico do seu desenvolvimento, o
marxismo ainda não conseguiu dar
respostas realmente satisfatórias aos
problemas apresentados pelas novas
condições mundiais. A divisão do
comunismo é uma manifestação da crise".
Ele se referia à crise teórica do marxismo sobre os partidos comunistas. Calha bem ao que a esquerda brasileira enfrenta agora. Chamar alguém de comunista nos tempos atuais pode ser uma danação, mas pode ser também um elogio injustificado.
No Brasil, um setor da esquerda quer retomar o poder sem fazer a autocrítica, elegendo o "taticismo" como engenhoca produtora de milagres. O esvaziamento ideológico contribuiu para o chamado "golpe parlamentar da direita" e continua operando pelas relativizações éticas, no melhor estilo: eles não podem, mas nós podemos".
Diria Lukács, se tivesse tido tempo de estudar essa esquerda decrépita:
"Na raiz da nossa crise, está uma
modalidade de oportunismo que é, talvez, a
mais grave das deformações que nos
deixou Stalin: o taticismo. Ao invés de
utilizarmos os princípios teóricos gerais do
marxismo para criticar e corrigir a ação
prática, subordinamo-los mecanicamente, a
cada passo, às necessidades imediatas, às
exigências momentaneas da nossa
atividade política. Com isso, renunciamos a
uma das conquistas fundamentais da
perspectiva marxista: a unidade de teoria e
prática. A teoria fica reduzida à condição
de escrava da prática e a prática perde sua
profundidade revolucionária. Os efeitos de
semelhante situação são catastróficas."
Por isso, quando alguém falar sobre os comunistas, é bom sempre investigar de que lugar ele fala e para quem fala.
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