A reportagem de O imparcial Online dá mais detalhes sobre a morte do detento na CCPJ do Anil. Nela, é possível entrever as condições das cadeias no Maranhão: um lugar onde os presos não tem como se defender de agressões à sua integridade física e psicológica. No Anil, a capacidade é para 85 presos, mas lá estão confinados 239 presos.
O preso homicida alega que estaria sendo torturado há dois meses pelo seu desafeto. Durante todo esse período, nenhum agente público soube de nada, nenhum preso da cela denunciou nada. Somente num ambiente sem lei é possível acontecer um fato como esse. Ou melhor, existe uma lei, mas não é a do Estado. É a lei do silêncio, a lei do crime. Com mais essa, o ano de 2011 inicia com simplesmente nove mortes em unidades de privação de liberdade. Confira a reportagem.
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Detento bebia água sanitária. Para acabar com as torturas, ele matou o algoz. Sobe para 26 o número de presos mortos em três meses no sistema pentenciário do MA.
Michelle Almeida
O crime aconteceu na CCPJ do Anil.
Um preso da Central de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ) do Anil, antiga Cerec, matou o companheiro de sala, na madrugada desta sexta-feira, 18. Newton Carlos Moraes Silva, de 28 anos, vulgo “Sapiringa”, confessou em depoimento prestado ao delegado Pedro Adriano Moreira Mendes, do 6ºDP, na Cohab, que assassinou Antonio Ismael da Conceição, de 30, com vários golpes de chuço.
De acordo com o depoimento de Newton, o motivo do crime seria porque Antônio estaria o obrigando a comer sal com água sanitária e ainda estaria o agredindo com uma garrafa de plástico cheia d’água há um tempo. “Ele tava me massacrando todo dia me fazendo comer sal com água sanitária e ainda ficava me dando ‘litrada’ todo dia”, disse Newton ao delegado.
Segundo Newton, as torturas teriam começado quando ele chegou à cela há cerca de dois meses e quando ele teria começado a trabalhar como cozinheiro da cela. Logo que chegou, Newton teria feito uma comida que somente Antônio não teria gostado. Depois ele teria começado a tortura. “Eu fiz a comida e todo mundo gostou, só ele (Antonio) que não gostou. Então começou a me torturar todo dia me fazendo comer sal com água sanitária. E ele fazia isso só comigo e com mais ninguém. Eu acho que ele não foi com a minha cara”, contou em depoimento.
O estopim para Newton teria sido quando Antônio quis obrigá-lo a comer lâminas de barbear. “Ele tentou me fazer comer ‘gilete’, aí eu não aguentei”, falou. No depoimento, Newton contou que no dia do crime, esperou Antônio dormir e ele teria ficado fingindo que estava dormindo, quando, por volta das 3h15 da madrugada, Newton teria surpreendido Antônio. “Eu amarrei o pescoço dele com uma corda e apertei, quando ele caiu da pedra, eu dei as chuçadas nele”, disse.
Os golpes atingiram a região do tórax e abdômen de Antônio. Segundo levantamento inicial dos peritos do Icrim, foram cerca de 10 golpes de chuço. Por volta das 7h da manhã, quando estava sendo servido o café, Newton confessou aos agentes penitenciários o que ele tinha feito durante a madrugada.
Newton, Antônio e mais outros 10 detentos estavam na cela 06 do Pavilhão Externo da CCPJ do Anil que tem capacidade 85 pessoas, porém 239 detentos estão no espaço. Newton cumpria pena por homicídio e porte ilegal de arma. A vítima estava presa por assalto.
Newton mora na Rua Santa Maria, Vila Industrial, Maracanã e trabalhava como pedreiro antes de ser preso. Antônio seria da área da Vila Embratel. Newton disse ao delegado não conhecia a vítima e que não tinha desavença com ele, a não ser o fato de ter sido torturado por cerca de dois meses.
O acusado foi autuado por homicídio pelo delegado Pedro Adriano Moreira e vai ser mandado de volta para CCPJ do Anil onde deve ficar temporariamente isolado em uma cela até que a Justiça determine se ele continuar no Anil ou se ele vai para CCPJ de Pedrinhas.
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