Nós vivenciamos o golpe desde o início da colonização. A história do Brasil é construída sob instabilidade e rupturas permanentes.
Tivemos apenas um breve hiato entre 2003 a 2015, cujo desfecho culminou em nova modalidade de golpe, fora do parâmetro clássico de mobilização de tropas e fechamento das instituições.
O governo Bolsonaro é fruto desse golpe e faz questão de demonstrar isso, como herdeiro da ditadura militar, abrigando extensa camarilha militar defensora da ditadura de 64.
O neoliberalismo brasileiro sempre conviveu com o Estado policial, desde o escravismo até as ditaduras. Não há incongruência moral entre ditadura e liberalismo no Terceiro Mundo.
Nos últimos dias muita gente apressada vislumbrou o fechamento do regime, como autogolpe, a partir das sinalizações recentes - um projeto de lei que propõe o regime de "mobilização nacional" e a demissão da cúpula das três forças armadas, logo em seguida à demissão do Ministro da Defesa.
Está evidente, desde o primeiro dia de mandato, que Bolsonaro gostaria de reviver a experiência de 64, mas não há condições políticas para isso. O presidente da república não agregou uma hegemonia capaz de respaldar esse projeto, dentro da instituições do Poder Judiciário e do Congresso Nacional, assim como tem sérias dificuldades para conquistar a opinião da mídia convencional nesse sentido, sobrevivendo agora nas franjas do bolsonarismo radical e estúpido.
O golpe do Bolsonaro não é no modelo da ditadura militar. Ele já está em curso e consiste em implantar um retrocesso político capaz de reduzir o país ao período do extrativismo exportador. Não esperem tanques, fiquem de olho na dinâmica das transformações da economia e da relação capital/trabalho. Isso é o golpe.