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15/12/2003
Os alunos que entraram por algum critério de cotas na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) no primeiro semestre letivo deste ano tiveram rendimento acadêmico superior e taxa de evasão menor em relação aos estudantes que conquistaram a vaga sem ter direito ao benefício.
? o que revela estudo elaborado pelo Programa de Apoio ao Estudante da universidade. Os dados mostram que, ao menos no primeiro semestre letivo do primeiro ano da reserva de vagas na instituição, não houve o impacto negativo, temido por alguns, no rendimento acadêmico dos alunos que chegaram à Uerj pelas cotas.
O estudo deve reforçar os argumentos dos defensores da introdução de cotas raciais ou para alunos carentes em todas as universidades públicas do país.
Um projeto que recomenda a adoção de cotas está sendo elaborado por um grupo que reúne representantes de 11 ministérios, do Conselho Nacional de Educação e da Advocacia Geral da União. O ministro da Educação, Cristovam Buarque, já se declarou favorável, com a ressalva de que não pode impor as cotas, para não ferir a autonomia universitária.
De acordo com o estudo, no campus principal da Uerj, que concentra a maioria dos cursos, 47% dos estudantes que entraram sem cotas foram aprovados em todas as disciplinas do primeiro semestre. Entre os estudantes que entraram no vestibular restrito a alunos da rede pública, a taxa foi um pouco maior: 49%.
A instituição adotou também o critério racial no seu vestibular com cotas. Entre os que se autodeclararam negros ou pardos, a taxa foi também de 49%.
A comparação inversa também é favorável aos cotistas. A porcentagem de alunos reprovados em todas as disciplinas por nota ou frequência entre os não-cotistas foi de 14%. Entre os que ingressaram pelo vestibular para alunos da rede pública, a porcentagem foi de 4%. Entre os autodeclarados negros ou pardos, de 7%.
Falta de apoio
Além de terem um rendimento acadêmico ligeiramente superior, os cotistas abandonaram menos os cursos, mesmo sem ter recebido apoio financeiro do Estado. Entre os não-cotistas, a taxa de evasão no primeiro semestre foi de 9% dos estudantes. Essa porcentagem foi de 3% entre os ingressantes pela rede pública e de 5% entre os autodeclarados.
A Uerj considera como aluno que abandonou o curso apenas o estudante que foi reprovado por frequência em todas as disciplinas do primeiro semestre e que não fez a matrícula para o segundo semestre letivo da instituição.
"O acompanhamento dessa primeira turma que entrou na Uerj por cotas mostra que a universidade não teve prejuízo acadêmico com esses estudantes", afirmou o coordenador do estudo e do Programa de Apoio ao Estudante, Cláudio Carvalhãs.
Os dados mostram também que, ao menos para a primeira turma de cotistas, o resultado do vestibular não foi determinante no desempenho acadêmico.
A nota de corte dos alunos cotistas na segunda fase do vestibular foi inferior à dos demais alunos. A maior disparidade ocorreu no curso de odontologia, em que um aluno cotista foi aprovado com nota 6,25 sobre um total de 110, enquanto o estudante aprovado pelo vestibular tradicional teve nota de corte 77,5.
O acompanhamento no primeiro semestre desse aluno que tirou 6,25 no vestibular mostrou que ele foi aprovado em todas as disciplinas do curso de odontologia, considerado um dos mais difíceis.
O estudo coordenado por Carvalhãs comparou ainda o rendimento acadêmico dos alunos por área. Os cotistas tiveram desempenho ligeiramente superior nos cursos das áreas de humanas, biomédica e ciências sociais.
O resultado só não foi melhor para os cotistas nos cursos da área de tecnologias e ciências --que concentra disciplinas que, tradicionalmente, apresentam altos índices de reprovação, como as que envolvem cálculos matemáticos.
Apesar de o estudo indicar um resultado favorável aos cotistas, Carvalhãs alerta que é preciso continuar acompanhando o rendimento dos estudantes para chegar a conclusões consolidadas.
Para o ano que vem, por exemplo, o governo do Estado mudou as regras das cotas e apenas os estudantes que comprovarem carência poderão se beneficiar da lei. Como essa lei não valeu para o vestibular passado, os atuais cotistas podem ter, por exemplo, um perfil socioeconômico mais favorecido do que os estudantes que entrarão em 2004.
Neste primeiro ano de cotas, a Uerj não teve apoio financeiro do Estado para distribuir bolsas para os alunos carentes que ingressaram na universidade.
A instituição fez, no entanto, um programa de reforço acadêmico destinado a todos os estudantes --cotistas ou não-- que se sentissem com dificuldade para acompanhar as aulas. Para o ano que vem, o governo do Estado do Rio e a Assembléia Legislativa aprovaram uma lei que garante ajuda financeira a esses alunos.
Carvalhãs suspeita que os estudantes carentes que ingressaram por cotas na Uerj tiveram neste ano um incentivo maior para superar possíveis dificuldades financeiras que poderiam prejudicar seu rendimento. Ele teme, no entanto, que esse quadro mude caso não haja ajuda financeira logo no primeiro ano de vida desse estudante na universidade.
"A Uerj tem um amplo programa de bolsas de iniciação científica, mas elas são destinadas principalmente aos veteranos. Muitos calouros pediram ajuda à universidade para se manter nos primeiros anos. Alguns afirmam que até abrem mão de um auxílio-alimentação, mas que precisam de ajuda para transporte", afirmou.
Fonte: Folha Online
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