terça-feira, 9 de abril de 2013
Quando nos sentimos inseguros e clamamos por segurança pública
Difícil mudar alguma coisa em matéria de segurança pública no Maranhão. Ela se movimenta ao sabor de uma opinião pública completamente desinformada. Ou melhor, uma opinião pública adestrada para raciocinar de acordo com um padrão de segurança pública que não se deve mais aplicar. Via de regra, os mais eficientes conselheiros dos gestores são as rádios AM e seus comentaristas, cuja formação na área se desconhece. Imitam o que impera no modelo de mídia policial do sudeste, que reproduz o sensacionalismo sem trégua da violência. O pior mesmo é quando a disputa pelo cargo de secretário contribui para enfraquecer o debate, personalizando a política pública. As estatísticas sobre homicídios, por exemplo, são o referencial mais forte para a avaliação do desempenho do secretário. Elas ofuscam os outros crimes e emergem no cenário dos debates como um fenômeno descolado da realidade social, dos perfis dos governos, dos indicadores sociais, do modelo de desenvolvimento. Se poucos estão morrendo, os outros crimes podem campear à vontade: ninguém criticará o gestor e o governo. Ninguém parece desconfiar que uma boa plataforma de segurança pública exige em primeiro lugar um bom governo, que faça opções corretas no campo de todas as outras políticas públicas. Da eficiente articulação delas depende o bom desempenho do policiamento, que não se confunde com segurança pública. Os pobres, cujas tragédias pessoais interessam a quase ninguém, já sabem que a violência crescente está imediatamente relacionada ao tráfico e à dependência química. Os crimes do cotidiano que daí derivam empolgam menos a mídia do que o sequestro dos filhos dos políticos, por certo. Mas não se vê nenhum formador de opinião levantar a voz contra a omissão do Estado em relação ao combate ao tráfico de drogas e, principalmente, ao amparo dos dependentes do vício. Combater o tráfico exige não apenas o policiamento repressivo. Significa ocupar o vazio das vidas, com políticas públicas voltadas para a população juvenil; significa fazer da política educacional uma ferramenta para o resgate das famílias, em torno do espaço da escola e da vida comunitária. Famílias desestruturadas, destruídas pelo alcoolismo, pela dependência, sem escolas bem estruturadas, sem ambiência comunitária, sem moradia digna são o campo fértil para a violência e o crime. Quem tem um projeto de vida bem fundamentado dificilmente fugirá do mundo por intermédio das drogas. Desfrutar a vida reclama lucidez. Amar a vida é o maior prazer e significa o exercício de coetâneas afetividades. O crime prolifera na ausência de tudo isso. Ele é o símbolo do vazio, da aridez e do abandono. Não adianta prender, não adianta atirar, não adianta bater ou espancar. Essa receita não dá certo, porque já constatamos isso. Por isso, o cenário de crescente aumento da criminalidade exige profissionais de segurança pública cada vez mais preparados, capazes de formular soluções para além da simples repressão. O Maranhão entrou na rota do crime, porque esse é o estágio atual das escolhas, adotadas pelos governantes das últimas décadas. Precisamos urgentemente refletir de onde vem o crime, quem é o "nosso" criminoso. Percebeu as aspas? Isso mesmo: o criminoso é nosso. Nós o formamos, por intermédio de laços sociais históricos, pautados por vezes na indiferença e no individualismo egoísta. Eles cobram a conta depois, num infeliz reencontro.
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