Uma matéria publicada pelo Estadão tem sido reproduzida com certa euforia no Maranhão. Ela fala de uma suposta reunião, no Palácio da Alvorada, na quinta-feira passada, entre os coordenadores da campanha de Dilma.
Segundo a reportagem, os avatares petistas (grupo formado pelos ministros Aloizio Mercadante, o marqueteiro João Santana, o ex-ministro Franklin Martins, o presidente do PT, Rui Falcão, além de Lula e Dilma) teriam decidido que o PT deve apoiar a eleição de Flávio Dino (PCdoB), para garantir um palanque forte para presidente no Maranhão. E chega a detalhes: O presidente do PT, Rui Falcão, teria sido contra, mas foi voto vencido.
A senha para a tomada de decisão (uma traição cirúrgica, conforme se lê) seria o fato de que Roseana Sarney (PMDB) não seria candidata ao governo, mas Luiz Fernando Silva, que não está bem posicionado nas pesquisas. O palanque patrocinado por Sarney seria contraproducente. Além disso, o apoio a Dino poderia impedir a aliança do PCdoB com o PSB, que fortaleceriam o palanque Eduardo Campos/Marina.
A matéria ainda traz outros elementos para a suposta "traição cirúrgica" ao clã Sarney:
a) Roseana estaria atrás nas pesquisas de seu concorrente ao Senado, Roberto Rocha (PSB);
b) O clã Sarney não confia em Washington, abrindo a possibilidade para que Roseana não deixe o cargo para concorrer;
c) A crise do PT, desde 2010, quando houve a intervenção do Diretório Nacional.
d) A cobrança do PCdoB, que é um aliado Nacional e tem no Maranhão o único Estado onde seria capaz de eleger um governador.
e) Dino poderia articular um palanque para o PSDB ou PSB no Estado, se fosse preterido pelos petistas novamente.
f) A traição se limitaria ao Maranhão, para não prejudicar a aliança PMDB-PT, e incluiria o apoio de Lula a reeleição de Sarney no Amapá.
Como essas informações chegaram até o jornal, ninguém sabe. Uma reunião como essa, entre um grupo restrito, supõe-se cercada de cuidados para que não haja vazamento de informações estratégicas para a disputa de 2014. A menos que seja um vazamento proposital, ou uma criação jornalística interessada.
Sobre cada um dos argumentos:
Roberto Rocha é o único candidato declarado ao Senado, por enquanto. Nem de longe supera a base social do grupo Sarney e o seu poder econômico e o seu poder de mídia. Para se contrapor ao grupo, Rocha teria que apresentar um curriculum da diferença. Mas como?
O fato de Roseana não ser candidata ao governo não muda em nada, em termos de aliança do clã com o PT nacional. Para o caso Whashington existem várias alternativas, que garantiriam no comando do governo um fiel cabo eleitoral.
Luiz Fernando Silva não está bem posicionado nas pesquisas, mas é muito cedo para um prognóstico desesperado, a ponto de se comprometer a governabilidade a nível nacional.
É improvável que o PCdoB embarque numa aventura com Eduardo Campos. Esse partido não funciona assim, historicamente. A partir da sua zona de conforto, apenas utilizará a candidatura de Dino para ampliar seu espaço no governo petista. O PT está careca de saber disso. É pagar pra ver.
A crise do PT, desde 2010, não é algo que mexe com os hormônios do núcleo duro petista. É mais provável que tenha sido uma crise calculada, para forçar a hegemonia do grupo de Washington no Estado. É só lembrar o tratamento dispensado a Dutra e Manoel da Conceição, por ocasião da greve de fome.
Por último, não existe possibilidade política de que a suposta traição se limitaria ao Maranhão. Sarney não é burro e tem força política para comprometer a aliança do PMDB com o PT. Ele foi o grande avalista desta aliança, num período difícil para o PT.
A candidatura de Eduardo Campos e a sua aliança com Marina fragiliza a candidatura de Dilma, mas principalmente fortalece o poder de barganha do PMDB, no plano federal e nas disputas regionais.
Portanto, acho a matéria sem fundamento na realidade, mas completamente engajada a partir de um interesse político anti-petista.
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