http://racismoambiental.net.br/2011/12/vale-duplica-ferrovia-e-multiplica-violacoes-no-maranhao-e-para/
Por Tatiana Merlino
Lucinete* aproxima-se de um homem sentado em uma
cadeira de plástico, que, acompanhado de uma jovem, toma cerveja.
– Oi, tudo bem? Você não me ligou… Por quê? –
questiona ela.
Não é possível ouvir a resposta.
“Combinamos de ele me ligar amanhã ao meiodia
para a gente sair”, conta Lucinete ao voltar, sorrindo. O homem aparenta ter
entre 50 e 55 anos, e, embora esteja com uma moça ao seu lado, a quem acaricia e
beija, lança muitos olhares para o corpo de Lucinete. A adolescente de 16 anos
veste uma calça jeans justa, mini-blusa vermelha, também colada ao corpo, batom
vermelho e pintura forte nos olhos.
Como Lucinete, várias outras meninas circulam
pelo local, numa noite de sábado do mês de outubro. O figurino é o mesmo:
roupinhas justas, curtas, brilhantes, maquiagem no rosto, salto alto, unhas
pintadas, cabelo arrumado. A casa de baile de Bom Jesus das Selvas, município
localizado no oeste do Maranhão, é o ponto de encontro da cidade, a balada onde
jovens, e nem tão jovens, encontram-se para beber, dançar e confraternizar. É
ali que também ocorrem os encontros de meninas pobres da cidade com os
funcionários das empresas que chegaram a partir de 2010, entre elas a Norberto
Odebrecht. Na cidade, a construtora instalou um de seus canteiros de obras para
a duplicação de 605 dos 892 quilômetros da Estrada de Ferro Carajás (EFC),
concessionária da transnacional mineradora Vale (os quilômetros restantes já
foram duplicados e hoje servem de pátios de cruzamento).
A duplicação faz parte de um pacote de cerca de
7,8 bilhões de dólares até 2014 e atenderá o maior projeto da história da
empresa e também o maior da indústria de minério de ferro do mundo: o S11D, que
será implantado na Serra Sul de Carajás, em Canaã dos Carajás, Pará.
Para atender à iniciativa, a mineradora também
construirá um ramal ferroviário de 100 quilômetros ligando a mina de Canaã dos
Carajás à EFC, em Parauapebas, e um quarto píer no Terminal Marítimo de Ponta da
Madeira, na capital São Luís, no litoral maranhense. O projeto aumentará a
capacidade de produção de minério dos atuais 100 milhões de toneladas ao ano, em
2010 para 230 milhões, em 2015.
Tal aporte pode ser explicado pela pesquisa da
Global Industry Analysts (GIA), que aponta que até 2015 o consumo mundial de
minério de ferro deve atingir 1,7 bilhão de toneladas ao ano, aumento de 70% em
relação a 2010. O aumento no consumo é impulsionado pelo crescimento da economia
de países emergentes, em especial a China.
http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/component/content/article/159-edicao-177/2311-vale-duplica-ferrovia-e-multiplica-violacoes-no-maranhao-e-para
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