Nem sempre a alegria de final de ano é contagiante para mim. Por força do hábito e do temperamento, não frequento grandes badalações e sou arredio à multidões. Prefiro estar recolhido com a família e os amigos mais íntimos, degustando dos pratos típicos da ocasião.
Nesse período, nenhuma euforia singular toma conta de mim. Sempre vi com reservas manifestações exageradas de felicidade. Deve ser por isso que não aprecio com intensidade também o período momesco.
Final de ano me motiva a pensar. Olhar para a frente e olhar para trás. Acho que não se deve esquecer o passado, principalmente. Sem ele, o futuro não tem direção certa. De relance, entrevejo as vitórias alcançadas, os fracassos, alegrias e arrependimentos.
Sim. Por que não? Nem sempre tudo é conquista, alegria, durante o ano que passa. Temos dificuldades em assumir nossas limitações, nossas derrotas e tristezas. Um mecanismo singular de compensação psicológica nos cega para nossas falhas e fraquezas - sobretudo aquelas que se dão no campo relacional. E são elas que nos fazem aprender a melhorar como ser humano, sobretudo. Elas estimulam as futuras vitórias.
Mas é importante saber que a vida não é só vitória. Esse negócio de nascido para ser campeão é ideologia norte-americana, de cunho nazista. Os seres humanos são frágeis, pequenos, infantis, via de regra. Erramos, e muito. Causamos danos, sofrimentos, uns aos outros, o tempo todo.
Por isso não faz sentido esse apregoado espírito natalino, somente no final do ano, por exigência de consumo. Deus não nasce para nós apenas no Natal. Ele deve nascer todos os dias, como um compromisso de renovação e correção dos nosso erros.
Se o Cristo fosse o aliado preferencial dos vitoriosos, teria nascido em berço de ouro, não num estábulo. Teria usado um alazão como meio de transporte, não o simplório jumento. Daí que não faz sentido festejar vitórias, como se fosse o último round de uma luta que se prolongará indefinidamente. A vida é tortuosa e no fim de ano podemos apenas fazer um balanço parcial dela.
É nesse período que relembro dos que não puderam chegar comigo até a reta final do ano. Nesse dois últimos anos, especialmente, perdi muito. Não pela quantidade, mas principalmente pelo valor. Sim, porque existem diferenças entre os seres humanos, embora a vida humana seja valiosa, em si mesma considerada.
Alguns que se vão, fazem falta, outros apenas causam perplexidade. Os que somam na construção do mesmo ideal não podem jamais ser substituídos.
Depois de Clausens Leopoldino e Célia Linhares, partiram Magno (agosto/2010) e Ivan (abril/2011), deixando um vazio estranho no lugar. No fim deste ano não tive com não relembrar de todos eles.
Como podem observar, nesse período, sempre sou invadido por uma certa nostalgia...
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