CELIAS TAVARES PEREIRA, um padeiro de apenas 34 anos de idade, morreu no dia 11 de agosto, no Hospital Socorrão II, em São Luís.
Era natural de Maracassumé, origem da sua tragédia pessoal e familiar.
Apresentava sintomas de enfermidade psicológica, nos últimos dias - mania de perseguição - acompanhada de um histórico de sonambulismo.
Na madrugada do dia 20 de julho, levantou-se do sono aos gritos por socorro, acordando toda a vizinhança. Entrou na casa de um vizinho, seu amigo, onde foi acalmado, e, aos poucos, voltou a dormir, estranhamente, no chão.
A SEGURANÇA PÚBLICA
Alguém, temendo o pior, havia chamado a polícia, que chegou por volta das 3 da madrugada. CELIAS, mesmo no seu estranho sono, foi algemado e colocado no interior da viatura, com destino à delegacia.
Ao amanhecer do mesmo dia, um parente encontrou CELIAS simplesmente destruído, fisicamente, na chão da cela. A gravidade das lesões o levaram às pressas ao hospital mais próximo, na cidade de Governador Nunes Freire.
A SAÚDE
Em Nunes Freire, constatou-se que não havia condições para atender a gravidade do caso. A família, obrigada a assinar um termo de responsabilidade, trouxe CELIAS para o Socorrão II, em São Luís. Ele ainda falava. Além de relatar a violência que sofreu, disse que lhe deram água misturada com gasolina, para beber.
No Socorrão II, cujo nome deve se referir ao seu estado precário de atendimento, prescreveram apenas a CELIAS o medicamento Nimesulida, para depois liberá-lo.
CELIAS continuou em estado gravíssimo, o que fez a família desconfiar daquele atendimento médico. Ele não conseguia fazer necessidades fisiológicas e continuava sentido forte dores abdominais.
A família, então levou CELIAS para a rede privada de saúde. Na UDI, após os exames óbvios, foi constatada insuficiência renal aguda, com a necessidade de internação urgente na UTI.
Sem recursos, a família passou a peregrinar em busca de leitos, em São Luís. Não havia. CELIAS estava morrendo.
Com sacrifício, a família autorizou a iternação na UTI da UDI, mas apenas por 3 dias. Depois ele voltou ao Socorrão II, onde veio a falecer no dia 11 de agosto.
A ESCUTA
A família não se conforma com a perda. Um dos familiares, um estudante de direito, recém formado. Será sua primeira demanda jurídica, infelizmente.
Sabem da versão implantada na imprensa de que CELIAS seria um bandido, linchado pela população. Teria tentado assaltar seu vizinho, que também era seu amigo. CELIAS, padeiro, que acordava toda madrugada, para fazer pães e bolos.
A CRIMINALIZAÇÃO DA VÍTIMA
A vítima padece em vários níveis por ser vítima: no primeiro, porque foi violentada; no segundo, porque enfrenta o constrangimento e o risco do processo; no terceiro, porque é comumente criminalizado pelos seus agressores que querem escapar da punição.
Requeiro, a designação de um delegado especial, para conduzir a apuração, após tratar do assunto, rapidamente, com o Subdelegado Afonso.
CAUSA MORTIS
Nas mãos de uma irmã, fotografias de CELIAS, antes da morte. Lesões absurdas. Um hematoma no olho esquerdo, que o fez parecer uma laranja. Na certidão de óbito, que vislumbro de relance: falência múltipla de órgãos, edema cerebral. Auto-lesão improvável. Nos registros hospitalares, uma palavra estranha: RABDOMIÓLISE.
Fui ao dicionário. O termo quer dizer, no Wikepedia:
"quebra (lise) rápida de músculo esquelético (rabdomio) devido à lesão no tecido muscular. A lesão muscular pode ser causada por fatores físicos, químicos ou biológicos. A destruição do músculo leva à liberação de produtos das células musculares na corrente sanguínea; alguns dos quais, como a mioglobina (uma proteína), são lesivos para os rins, podendo causar insuficiência renal aguda. O tratamento se dá com fluidos intravenosos e diálise ou hemofiltração se necessários.
A rabdomiólise e suas complicações são problemas encontrados em pessoas que sofrem lesões em desastres como terremotos e bombardeios. Ou em usuários da droga crack."
Quem matou CELIAS?
Socorro polícia. Socorro, Socorrão II.
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