sexta-feira, 8 de março de 2013

20 mil mulheres de países com mutilação genital pedem asilo na UE

Cerca de 20 mil mulheres que pediram asilo na União Europeia em 2011 vinham de países onde a mutilação genital feminina (MGF) existe, o que impõe preparação para lidar com estes casos, defendem as Nações Unidas. No documento "Demasiado sofrimento - mutilação genital feminina e asilo na União Europeia", o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) começa por constatar que "pouco se sabe" sobre MGF na União Europeia.
Da mesma forma, a relação entre asilo e MGF, prática que provoca danos permanentes na saúde física e psicológica das mulheres a ela submetidas, é um "aspecto pouco estudado".
Baseando-se em dados do Eurostat relativos ao período entre 2008-2011, o ACNUR considera que aquelas 20 mil mulheres representam um número "claro", embora "relativamente constante", contrastando com o aumento global de mulheres que pediram asilo, de 65.125 para 93.350, no mesmo período.
Em 2008, 18.110 mulheres e crianças originárias de países onde a MGF é praticada pediram asilo na UE, número que subiu apenas para 19.565 em 2011 -- das quais dez por cento (1.950) obtiveram, efectivamente, protecção internacional.
Entre 2008 e 2011, as requerentes vinham maioritariamente de Somália, Eritreia e Nigéria e o Reino Unido foi o Estado-membro que maior número de asilos concedeu, com uma média acima dos 600 por ano.
Em Portugal, das 95 mulheres e meninas que pediram asilo em 2011, mais de metade (55) eram originárias de países com MGF, mas nenhuma delas vinha da Guiné-Bissau.
Em toda a UE, 30 mulheres da Guiné-Bissau -- que, com uma incidência de 44,5%, integra a lista de 29 "países de origem da MGF" -- pediram asilo no ano passado, mas todas o fizeram em França.
França, Itália, Suécia, Reino Unido, Bélgica, Alemanha e Holanda são os sete países que, em 2011, mais concederam asilo a mulheres oriundas de países com MGF.
Em 2011, as requerentes de asilo vinham sobretudo de Nigéria e Somália (39%), seguindo-se Eritreia, Guiné Conacri e Costa do Marfim.
Vir de um país com MGF não significa, a cem por cento, que se seja mutilada. Segundo as estimativas do ACNUR, das 14.440 requerentes de asilo entre os 14 e os 64 anos -- margem analisada pelo ACNUR, mas que exclui os inúmeros casos de MGF praticados em meninas com menos de 14 anos -, 8.809 poderão ter sido, efectivamente, mutiladas, o que representa 61% do total de processos abertos em 2011.
Vinte mulheres da Guiné-Bissau surgem incluídas naquela faixa etária em 2011, nove das quais "potencialmente mutiladas", segundo o ACNUR.
A agência da ONU não pretendeu, com estes dados, tirar conclusões, mas ajudar os decisores políticos a lidar com a realidade da MGF e incluí-la nas políticas de asilo e programas de protecção.
O número de mulheres que procuram protecção na UE impõe que se adoptem "políticas e ferramentas adequadas às vulnerabilidades específicas das mulheres mutiladas que buscam asilo e das mulheres mutiladas já integradas na UE", sustenta o ACNUR.
A agência da ONU alerta para a possibilidade de "as barreiras sociais, linguísticas, religiosas e culturais" poderem "impedir o acesso destas mulheres e meninas refugiadas a cuidados de saúde especializados e a serviços de apoio".
O ACNUR "encoraja a Comissão Europeia a considerar a necessidade de adotar linhas de orientação interpretativas sobre asilo e MGF", no sentido de "harmonizar as práticas nacionais".
Lusa/SOL

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