Depois de uns poucos dias de descanso, retornei para a Ilha sem chuva. Ontem, talvez para me trazer alguma esperança, os céus enviaram um pouco de chuva, durante a madrugada. Mas não é o suficiente para aplacar a secura da ilha. Atravessamos os meses de agosto a outubro, sem a tradicional "chuva do caju", símbolo da estação das frutas. O resultado, semelhante ao ano anterior, foi menos caju, menos manga, menos pitomba, menos juçara, menos murici....
É evidente que, para além dos fenômenos climáticos que ajudam a confortar a consciência dos depredadores, estamos vivenciando um problema de sustentabilidade. A Ilha cresce desordenadamente sobre os ecossistemas naturais. Os juçarais e os buritizais estão cedendo lugar para os grandes condomínios, formigueiros de gente morando em pombais de concreto, com esgotamento sanitário canalizado para o mar ou para rios e córregos. A nova face do crescimento urbano significa o cimento e os espigões, sem praças arborizadas, sem parques, prevalecendo um ambiente de jaula para todo mundo.
O Poder Público, que deveria ser o principal ordenador desse espaço urbano, dá maus exemplos frequentes, agravando os impactos ambientais sobre o frágil ecossistema da Ilha. Lembra do aterro do Bacanga? E o Sítio Santa Eulália? Somos capazes de relembrar do imenso prédio da atual Assembléia Legislativa? E a Avenida Expressa?
Dentre os inúmeros problemas que a Ilha padece, já é hora das autoridades municipais adotarem algumas estratégias para humanizar esse crescimento urbano e conciliar o desenvolvimento com a sustentabilidade dos ecossistemas da Ilha. Como os córregos, os rios e o mar não obedecem os limites das divisas municipais, é necessário cooperação e planejamento conjunto do Poder Executivo das diferentes cidades.
Dá um frio na barriga, constatar que a especulação imobiliária financia campanhas políticas exatamente para não ser fiscalizada e controlada pelos governos municipais e estaduais. Os grandes empreendimentos que se fixam gradualmente na parte Norte do nosso mapa estão contribuindo para a valorização exagerada da terra urbana, comprometendo o direito à moradia dos mais pobres. Muitos deles vieram para cidade, sobretudo expulsos pela falta de oportunidade, senão pela violência do latifúndio.
De São Luís - capital do Estado - deveria partir o exemplo, em termos de compromisso com uma reforma urbana capaz de promover o desenvolvimento em harmonia com a missão da sustentabilidade. Até porque a vocação turística da Ilha é atraída principalmente pelos equipamentos e serviços urbanos sediados na capital. E quando se fala em vocação turística não se pode imaginar uma cidade cercada de esgotos fétidos, ornamentadas de lixo desde a sua entrada, com suas praias poluídas e seu rios e córregos soterrados por toda sorte de imundícies.
Será que o prefeito eleito será capaz de iniciar esse processo de resgate da nossa cidadania?
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