quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Processo com 68 réus é o maior a chegar a tribunais desde fim de anistia


Argentina começa a julgar ‘voos da morte’ na ditadura

http://oglobo.globo.com/mundo/argentina-comeca-julgar-voos-da-morte-na-ditadura-6865804

Com agências internacionais
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Ativistas colam cartaz do jornalista Rodolfo Walsh, que desapareceu durante a ditadura argentina
Foto: REUTERS/Marcos Brindicci
Ativistas colam cartaz do jornalista Rodolfo Walsh, que desapareceu durante a ditadura argentinaREUTERS/Marcos Brindicci
BUENOS AIRES — A Argentina iniciou nesta quarta-feira o maior julgamento desde a anulação, em 2003, das leis de anistia para os crimes cometidos durante a última ditadura militar no país (1976-1983). Ao todo, 68 ex-militares e civis respondem por 798 acusações de sequestros, torturas e homicídios relacionadas à Escola de Mecânica da Marinha (Esma), maior centro de detenção ilegal na ditadura - inclusive os chamados “voos da morte”, nos quais dissidentes eram atirados no mar.
Os principais acusados são os ex-capitães da Marinha Alfredo Astiz (conhecido como Anjo da Morte), Ricardo Cavallo e Jorge Acosta, já condenados em 2010 à prisão perpétua em outro processo por tortura e assassinatos na Esma, além de oito ex-pilotos dos voos da morte. Também está sendo julgado o ex-secretário da Fazenda Juan Alemann, acusado de testemunhar o interrogatório sob tortura do militante Orlando Ruiz, suspeito de participar de um atentado contra o político e cujo paradeiro é desconhecido até hoje.
Denunciada durante anos por sobreviventes da ditadura, a prática dos “voos da morte” foi confessada em 1995 pelo ex-capitão Adolfo Scillingo, que admitiu ser responsável por matar ao menos 30 dissidentes recorrendo a esse expediente. Scillingo acabou condenado na Espanha a mais de mil anos de cadeia, num tempo em que ainda vigoravam na Argentina as leis de anistia promulgadas no governo de Raúl Alfonsín (1983-1989).
Segundo as investigações, nesses voos, os prisioneiros eram jogados ao mar vivos, nus, amarrados, encapuzados e dopados. Uma das testemunhas afirma no processo que um dos pilotos sob julgamento, Emir Hess, se vangloriava de que os presos “caíam como formigas”. Entre as vítimas dessa prática estão fundadoras das Mães da Praça de Maio e as religiosas francesas Alice Domon e Léonie Duquet.
- Hoje é outro dia para comemorar, porque nós não pensávamos que este dia chegaria. Todos os julgamentos são importantes, mas este é especial pela quantidade de repressores que estão no banco dos réus e porque, pela primeira vez, inclui os responsáveis pelo voo da morte - afirmou Taty Almeida, integrante das Mães da Praça de Maio, uma das centenas de militantes que foram acompanhar o início do julgamento.
Até dois anos de duração
Pela Esma, segundo organismos de direitos humanos, passaram 5 mil presos políticos durante a ditadura, dos quais somente 200 teriam sobrevivido. Além dos voos da morte, o local também foi palco de crimes como o roubo de bebês de dissidentes, que foram entregues a famílias simpáticas ao regime. Hoje, o espaço foi transformado em museu.
O julgamento iniciado ontem deve durar até dois anos, período no qual serão ouvidas 830 testemunhas. Desde o fim das leis de anistia, mais de 200 pessoas já foram condenadas por crimes cometidos durante o regime militar, entre eles os ex-ditadores Jorge Videla e Reynaldo Bignone.

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