sexta-feira, 15 de abril de 2011

58 Anos de César Teixeira

imagem colhida na net.

http://www.zemaribeiro.blogspot.com/

As ferramentas do poeta da paz que não chama atenção


SONETO DA PAZ



Nos ombros secos levamos

a rede amarga de sangue,

há um hino em cada boca

e nada nos amedronta.



Em nossas mãos a bandeira

é a camisa do morto

tremulando feito alma

expatriada do corpo.



Mas as fronteiras de arame

entre um e outro homem

serão cortadas agora



que todas as ferramentas

estão plantando na terra

a semente das auroras.



&



A BALA



Ninguém pode descrever

a trajetória da bala

penetrando na pele.



A bala antropofágica,

subtraindo o homem

de sua própria história.



A bala e o arame farpado,

subtraindo o homem

de sua própria geografia.



A bala em vez da semente,

plantando o ódio,

entre as costelas.



No entanto, a mesma bala,

nesta noite inatingível,

nem sequer desconfia

que o próximo tiro

sairá pela culatra.



&



PRIMEIRO DE MAIO



Estamos aqui reunidos

para ouvir a própria fala

dizer em nossos ouvidos

aquele que luta e não cala.



E mesmo que a força da bala

proíba que alguém se rebele

faremos ouvir nossa fala

por sobre as bandeiras da pele.



E arrancaremos estrelas

para plantar em memória

de quem já não pode mais vê-las

surgir sobre a nossa história.



E quando chegar o momento

então sairemos ao vento

colhendo a nossa vitória.



&



OFICINA



Se não existissem estrelas de ferro

não existiria fome, nem medo,

existiria apenas o cego e o mudo

construindo as esquinas

de outro mundo.



Não haveria a liquidez dos assassinatos

se não existissem armas sob a capa de chuva,

nem haveria alma se diluindo em sangue

sob a lama dos sapatos,

haveria o pensamento sólido no prato.



Na transparência do fogo

surgem novas ferramentas

para que o homem resolva

de uma vez por todas

recriar sua própria oficina.



&



MUNDICA



Das mulheres que eu feri

aquela em que eu mais ardi

se rasgou pra me cuspir

na cama



Cantaria para mim

a música de um querubim

se a vida não fosse assim

profana



Flor selvagem do Interior

cujo fruto foi a própria dor

de colher aqui tantos espinhos

Espiava pelos botequins

na embriaguez dos arlequins

tentando reconhecer seus filhos

Contaria para mim -

a fábula do jaboti

se a vida não fosse assim

a fera



que corre pelos jardins

e assalta nossos camarins

e depois foge pela janela

Bebe as tempestades nos dedais

anuncia outros carnavais

que essa febre já nos incendeia

Mata a tua sede, vai por mim,

antes que o fogo queime o capim

sai de baixo dessa terra alheia



Toma a tua terra e berra

contra os teus demônios

que a mais antiga ferida

é o nosso sonho



II



Entre todas que eu curti

aquela que eu não mereci

continua para mim a mesma

com seus dedos de marfim

cerzindo meias para mim

no inverno de tanta tristeza



Flor selvagem do Interior

foi aquela que ninguém plantou

sobre as pedras de nossa Província

Abrigava todos os ladrões

em sua caixinha de botões

antes mesmo de virar notícia



Só pra me fazer dormir

recitaria para mim

aquela poesia do Algarves

e abriria para mim

as suas pernas de cetim

se fosse pra me parir

outra vez



As agulhas não espeta mais

no seu peito como os generais

fazem com suas estrelas loucas

Foi embora sem se despedir

mas deixou a sua arte aqui

como quem parte pensando em voltar



Afugenta os bichos do lixo

tira a tua roupa

veste esta poesia, que um dia

eu te faço outra



(janeiro de 1982)



&



Cinco poemas de Cesar Teixeira, que completa hoje 58 anos de vida e arte, nele, insuperável, inseparáveis. O último é letra de música (inédita) dedicada à sua mãe. Catei os poemas em Bazar São Luís (artigos para presente e futuro) (1988), volume de crônicas de Herbert de Jesus Santos. O título deste post é o da que o autor dedica ao aniversariante do dia.

Um comentário:

Anônimo disse...

PARABENS CAMARADA,,,,QUEM NOS AJUDARA......

MARTINS E CREUZA