Não gostaria de entrar na política fazendo tudo errado. Se a política fosse o meu objetivo de vida, já teria várias experiências eleitorais na minha biografia. Os políticos em geral começam mais cedo.
Não condeno a política, mas seus métodos convencionais. Vi muita gente que admiro ingressar na política e conquistar vitórias rompendo com a política tradicional. Isso não é só possível, mas necessário. E ainda ocorre, até que o povo derrube de vez esse modelo de representação, desigual e mentiroso.
Gradualmente, o conjunto de forças políticas que ajudaram a compor os governos petistas a partir da estratégia dos partidos democrático-populares foi se diluindo, em função dos mecanismos internos de manutenção do poder.
Assisti, desde jovem, a tática eleitoral adotada pelos comunistas do PCdoB no Maranhão, que até chegou a compor governos da oligarquia, em 1995. Vi o PSB se desligando aos poucos da utopia de Francisco Julião e abraçando a candidatura de Cafeteira, para derrotar o grupo Sarney.
Vi Neiva Moreira defender o voto em Lobão, contra João Castelo, em 1990, dividindo o PDT.
Vi o PT empunhando os sonhos da classe trabalhadora, por resistir às táticas adesistas e pragmáticas. Da crítica petista nem Jackson Lago escapou, demorando a configuração de uma frente popular no Estado, em função da presença da oposição conservadora.
Agora assisto o PT fazendo uma aliança prioritária com a bancada ruralista, que tanto combateu. Vi o sonho da reforma agrária não apenas ser abandonado, mas também desmoralizado. Vejo agora esse mesmo PT de braços dados com seu adversário principal, desde o berço: o Sarney.
Advogando sempre para trabalhadores (especialmente os rurais) vi os projetos políticos de libertação se fragmentando, dividindo as lideranças de base, confundindo adversários com aliados. Meu ofício sempre representou o programa extra-partidário dessa resistência social. O de muita gente que conheço também.
Participei de incontáveis atividades, conduzi inúmeros cursos de formação, enfrentei os mais variados riscos, por enfrentar a violência dos poderosos do Estado, incluindo seus projetos empresariais. Em dia nenhum me ocorreu abandonar a trincheira e me render à sedução da vida pródiga e confortável, que tanto vejo representada na advocacia de resultado, sem compromissos ideológicos.
Trilhei caminhos de coerência e com muitos companheiros e companheiras mantivemos uma trajetória de coerência e de decência. Essa é a minha ambiência, sempre fora dos círculos de poder, mas acreditando que toda luta requer um projeto de poder.
Muitos que estão hoje ao lado de nomes como Zé Vieira, Raimundo Cutrim, ou mesmo João Alberto e Lobinho, recriminavam orgulhosamente as lideranças comunitárias por sucumbir ao projeto de poder quase absoluto que reina dentro dos pequenos municípios do interior.
Vi muitas lideranças, humilhadas, subindo em palanques de seus algozes da luta pela terra, por conveniências táticas de projetos eleitorais absolutamente confusos, que não resultaram em coisa alguma, a não ser na desmoralização, no desânimo e na apatia dos trabalhadores.
Assisti despejos forçados, destruição de roças, violências injustificáveis, como o fuzilamento de trabalhadores no povoado Juçaral, em Vitória do Mearim, ordenado pelo Secretário de Segurança de Plantão. Vi Igrejas sendo jogadas ao chão por tratores, vi trabalhadores transportados algemados em carrocerias de caminhonetes, de municípios da Baixada até São Luís - por resistirem à criação extensiva de búfalos. Por fim, vi muita gente morta, assassinada por pistoleiros.
Defendi os presos políticos da reforma agrária e das mais variadas lutas sociais. Eu os vi chorando de desespero e de ódio contra a injustiça.
Várias personalidades políticas do cenário atual estavam envolvidas nesses episódios de violência. Eles sempre mantiveram ligações íntimas com o projeto de poder das elites. Eram e ainda são capitães do mato da modernidade e agora querem a remissão de seus pecados pela política.
Fala-se em "memória e verdade", quando se referem em geral aos crimes da ditadura, mas não se fala desse tipo de criminoso, que rouba a esperança e a dignidade de muita gente, no interior do Estado e fica impune. Eu convivo com muitas testemunhas vivas desses processos violentos, memória que atualiza o passado, como uma tatuagem. Na fachada de algumas Igrejas e casas de povoados da zona rural ainda podemos ver as marcas das balas de armas de grosso calibre, utilizadas para calar o direito dos pequenos.
Hoje chegamos ao paroxismo do projeto das elites, quando elas conseguem fazer a cooptação de quase todos, inclusive de antigos e heróicos combatentes de outrora. Muitos se renderam por simples exaustão. O cansaço desgastou os projetos políticos que já se apresentavam combalidos, pela diluição ideológica.
Gostaria de lembrar que nem todos estão satisfeitos com a rendição em massa. Por isso, nos manteremos firmes no lugar de sempre, resistindo a todas as forças da opressão, venham de onde vierem. Antes de subir num palanque, é preciso vislumbrar quem o ornamenta. Não haverá perdão para eles. Para isso, invocaremos o testemunho dos que ainda estão vivos e dos que se desencarnaram.
Um comentário:
Companheiro Pedrosa, como sempre um bom artigo. Você chega no momento certo para fazer a diferença no cenário político maranhense, e com a lucidez necessária para enfrentar os gigantescos problemas sociais que assombrar nosso Estado. Gostaria de informá-lo ainda que tomei a liberdade de rê-publicar o artigo no nosso site do Psol de Pinheiro: www.psoldepinheiro50.org.br, confira!
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