Encontra-se internado e em estado inconsciente, Ivan Costa, militante do CCN e da luta quilombola no Estado. Ele vinha lutando contra um câncer no intestino, há cerca de dois anos. Submeteu-se a duas cirurgias e ao tratamento quimioterápico. Hoje de manhã, soube que numa sessão de quimioterapia entrou em convulsão e perdeu a consciência.
Ivan deixou seu nome escrito na história das lutas das comunidades de quilombos do Maranhão. Foi um dos principais articuladores dos Encontros de Comunidades Negras Rurais Quilombolas, que tiveram início no ano de 1986. Também exerceu imporante papel na construção da Conac (Coordenação Nacional dos Quilombos) e da Aconeruq (Associação das Comunidades Negras Quilombolas do Maranhão).
No Projeto Vida Negro, a princípio executado em parceria com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, cumpria como ninguém o papel de mobilizador das comunidades e suas lideranças, além de efetuar pesquisas nos antigos documentos de cartórios, para instruir os pareceres e petições jurídicas.
Conheci Ivan, como militante da SMDH, quando a sede da entidade ainda funcionava na Rua Antonio Rayol. Juntos, já como assessor jurídico do Projeto Vida de Negro (PVN) percorremos centenas de quilômentros, nas estradas que levam ao quilombos. Viajávamos quase sempre na Toyota Bandeirantes da SMDH, mas também percorríamos caminhos a pé, onde o acesso às comunidades era intrafegável. Levamos a esperança onde imperava a violência do latifúndio. Lembro das inúmeras audiências, reuniões, seminários e encontros que participamos juntos, dentro e fora do Estado.
Sem a contribuição de Ivan a luta dos quilombos certamente não teria chegado tão longe. O marco legal existente hoje sobre a temática tem também as digitais de Ivan. Ao mesmo tempo em que contribuía com a organização dos grandes encontros nacionais dos quilombos, partilhava da grande utopia de ver tituladas as terras de preto no seu Estado e no Brasil. Não era um intelectual, mas nada foi produzido nessa área sem a sua contribuição.
Ivan foi grande. Foi maior do que todos nós. Ele está no limiar da vida, enquanto escrevo essas linhas, trancado num quarto de hotel, em Belém/PA. Sei que os tambores rufam em Frechal, rufarão também ao longo do Itapecuru, do rio Turi e nos grotões longínquos de Alcântara, até onde as águas banham a encantada Pedra de Itacolomi.
O culto Mina também está prestes a perder um filho ilustre. Soube que Ivan desejou para seu velório três salvas de tambor, a última às 5 horas da manhã. Quis anunciar a partida na presença da estrela dalva, talvez para relembrar a folia dos pretos, onde esteve tão presente, quando se dança até o raiar do dia, com a benção de Verekête.
Escrevo agora, quase à meia-noite, para afugentar essa angústia de perder um irmão. As lembranças de Ivan agora passeiam na minha mente. A sensação é de silêncio de madrugada e de orvalho, ao longo de uma longa estrada de terra, ladeada por grandes árvores. Ivan caminha por ela... sorrindo.
Espero que resista, Ivan! Axé!
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